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domingo, 27 de março de 2011
Palavras ao vento
Lá estava ele, sentado de braços abertos para o vento. Parecia comunicar com o vento, mantinha os olhos fechados e a mente aberta… Era um lugar calmo, cheio de corredores ventosos e permanecia no alto de um precipício. Os montes rochosos estratificados desenhavam ossos de algo do passado. Existia um declive completamente perpendicular ao solo. No monte deste precipício as únicas coisas que se avistavam eram nuvens, rochas, e mais rochas… como se estivesse mergulhado em nuvens e poeiras. O senhor sentado era desconhecido de tudo e todos. Seria mesmo um senhor? Interrogavam-se a fauna e a flora. Possuía olhos grandes, verdes, roupas pretas, rasgadas, e um sorriso muito distante. Este indivíduo pronunciava palavras para o vento, como: - Para onde vais tu? - Como disseste que eu me chamava? - Penso que não sou ninguém! Assim eram os trezentos e sessenta e cinco dias anuais, solitários, negros, e chuvosos. Quem avistava este cenário era uma criança dócil e curiosa. Todas as noites corria para aquele lugar sombrio e horrendo para matar a sua curiosidade quanto aos “fazeres” e “dizeres” do senhor ao vento. A criança maravilhava-se com o espectáculo, vai-se lá saber porquê, e como era muito tímida não se mostrava perante o que avistava, silenciosamente. Esta pobre indefesa não temia o medo do mal que a criatura lhe poderia fazer e um dia lançou-se aos raios lunares e destapou a cara que se cobria de folhas e ramos todas as manhãs. Perguntou: - Senhor, quem és tu? Que fazes todas as manhãs, que te vejo tão solitário falando para ninguém? A insensível criatura nem um dedo mexeu, ficou imóvel como se com um boneco partilhasse o coração. Repentinamente devagar, observava-se o corpo do monstrengo dar uma volta de 180º e ficar imóvel outra vez. Os seus pés ocupavam apenas a área costeira do precipício. Numa questão de segundos a criança deu um salto assustada de onde estava e correu em direcção ao lugar do homem. Ele já não estava no mesmo sítio, o vento levara-o… pelo precipício…Ainda podem ser vistas preservada no local as lágrimas puras e cristalinas da criança deixadas naquela noite.
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